PAÇO ALFÂNDEGABairro do Recife - Recife - PE
2002 · Construído
“A arquitetura, como qualquer linguagem, é um ente vivo que se transforma e coloca novas propostas e reflexões. Valores associados ao conforto na vida cotidiana e não presentes na arquitetura dos séculos passados são desafios que os arquitetos enfrentam quando têm de intervir em sítios, conjuntos ou edifícios históricos. É fundamental preservá-los, como é fundamental impedir que a preservação sufoque a vida, o novo.”
Dentro dessa premissa, situa-se a intervenção do Paço Alfândega.
Construído em 1720 para abrigar um convento dos padres oratorianos, separado da igreja por um claustro, o edifício abrigou, a partir de 1826, a Alfândega, separando definitivamente o edifício da igreja.
Em 1922, o edifício sofreu um incêndio, perdendo dois torreões voltados para a igreja e reduzindo um pavimento nos outros dois voltados para Sul. Além disso, na reconstrução, suas linhas neoclássicas com, arcadas e torres, deram lugar a fachadas de aspecto neogótico.
Em 1932, a Santa Casa de Misericórdia, proprietária do imóvel, alugou-o para a Cooperativa dos Usineiros, transformando-o em armazém de açúcar.
O edifício, notável pela sua escala no bairro e pelo seu valor histórico, encontrava-se relegado a um simples estacionamento de veículos, sendo desfigurado, cada vez mais, pela adequação ao uso e pela inclemência do tempo.
Garimpar a construção existente, desnudando paredes e pisos, buscando identificar, baseado nos relatos iconográficos, o que é a essência do projeto original, seus diversos momentos de
modificações aos usos correspondentes, em confronto com a implantação e operacionalização de um uso com características específicas e modernas, foi nosso permanente desafio.
1º novo piso, deixando o arco inferior pleno.
2° novo piso, passando pelo ponto onde inicia a curvatura do arco superior.
3° novo piso, passando pelo ponto de intersecção da coberta metálica construída quando depósito.
Rasgo substituindo o “arquinho enxerido”, dando escala à arcada, liberando o grande arco de acesso.
Os arcos superiores tocam o futuro 1° pavimento.
Na futura laje do 2° pavimento, as janelas existentes tornam-se seteiras.
Os quatro arcos a serem mantidos na sua plenitude, abrindo um rasgo simetricamente oposto ao já existente.
No 1° piso, mantivemos o trecho mais significativo da parede conventual (aberturas retangulares com cercaduras de pedra).
Os pisos dos andares se apoiam em estrutura metálica, solta da arcada original (buscando a modulação dos arcos), deixando nítido o novo e o velho.
Garimpar os vãos entaipados, resgatando as janelas e óculos originais, recompondo a fachada mais “lida” do edifício.
Assim, o uso de estrutura metálica independente das alvenarias existentes, deixando nítida a leitura do que é novo e equalizando a ordem arquitetônica do velho edifício com os diversos níveis que constituem o Paço Alfândega, é o balizador da nossa proposta.
Os espaços abertos, mall e galerias, além de responder ao layout do novo uso, repetem, pontualmente, os pátios da antiga construção. A cirurgia a que, compulsoriamente, foram submetidas algumas paredes, teve a premissa de ressaltar seus valores
intrínsecos, viabilizando o mix do shopping center e criando um novo espaço arquitetônico, num diálogo harmonioso entre o novo e o velho, mantendo a caligrafia e a escala deste prédio soberano.
A instalação de climatização aparente possibilita um pé-direito melhor aos diversos níveis, tirando partido de tê-la como organizadora de espaços de convivência.
Arquiteta Associada: Luciana Menezes
Ano: 2002
Construtora: JAG
Área terreno: 3.772m²
Área construção: 13.605m²
Pesquisa Arqueológica: Arqto. José Luis Mota Menezes
Consultoria Restauro: Arqto. Jorge Passos
Cálculo Estrutural: ENGEDATA
Climatização: INTERPLAN